quinta-feira, 15 de agosto de 2019

Um ponteiro quebrado,
Que ao peso do tempo
Envergou.

Na agenda nomes riscados,
A quem a memória
Tratou de apagar.

No peito vazio,
Um nome que
No verso da foto rasgada
Pensei um dia guardar.

terça-feira, 4 de junho de 2019

Quantos cães
Vindos da sarjeta
Rondam o que
Chamei de casa?

Que ímpeto, o tempo,
Como inquisidor,
Baterá à minha porta,
para descobri-la vazia?

E as moscas,
Sobre a sopa fria,
O que dirão?

Lágrimas, para quem,
Se pelas nuvens,
O meu jardim secou?

Se um dia estive aqui,
apenas irão lembrar
silêncio e esquecimento.

domingo, 10 de junho de 2018

Tenho medo do olhar
Que através das palavras
Um dia possa encontrar
Ao longo de mentiras,
Verdades sinceras,
Coisas só minhas.







É noite em minha alma,
e não há estrelas ou lua.
Quem um dia pensou
que ela levaria as cores 
sonhadas ao nascer do dia.

Oh terrível noite
que de minha alma 
se fez dona.

Em teu vazio
minha alma se contrai.
Me entrego aos vícios
que como placebo
a vida me traz.
E com enebriante beijo
tento me entregar
para suportar o peso
que na completa escuridão
em seu manto esconde
todo o peso do universo.

E se aqui minha vida findar
não haverá espaço
para lagrimas ou lembranças
pois a noite com seu manto
me esmaga ao esquecimento.



terça-feira, 7 de novembro de 2017

MAKTUB (Estava Escrito)

            Seus olhos foram lentamente se abrindo. Pelo menos esta foi a impressão inicial que ele teve. Mas a certeza não veio, pois apesar de sentir que suas pálpebras agora estavam bem afastadas uma da outra, o que via era apenas a escuridão. A sensação de estar ali há algum tempo veio à medida que sentiu suas articulações enferrujadas pelo desuso. Moveu o braço esquerdo lentamente, como para que seu cérebro se reacostumasse ao seu corpo. Sentiu que seus dedos passavam por entre folhas de papel, dezenas delas. Agora era a vez do braço direito. Ele estava mais pesado do que o esquerdo. Tentou serrar o punho, mas algo o impediu de completar tal tarefa, não porque não tivesse força ou porque seu cérebro não conseguisse, mas porque segurava uma estrutura fria e aparentemente metálica. Tentou separar os dedos e se desfazer daquela estranha sensação que aquele objeto lhe dava, mas não conseguiu. Dessa vez seu cérebro como por instinto, em relação a algo que ele não sabia o que ou por que, não queria largar “aquilo”.
             Seus olhos teimavam em não querer se adaptar a escuridão. O que lhe deixava mais aflito. Ficou por algum tempo parado, tentando entender a situação. Aonde estava, como chegara até ali, o que acontecerá e, o pensamento seguinte o fez vacilar um pouco, quem ele era. Talvez quando conseguir ver algo naquele lugar, ele conseguirá as respostas como por mágica, como se elas estivessem ali escondidas pela escuridão e apenas os seus olhos não as podessem ver, ainda.
            - Quem sou eu? Ele falava! Aparentemente seu cérebro não o havia privado de certas faculdades. Essa pergunta ficou ecoando em sua cabeça, e teve a impressão de que alguém ao longe dava risadas de sua lastimável situação.
            Será que o tempo conseguia passar naquela total escuridão sem se perder? Ele podia ver os segundos se batendo com os minutos, e as horas desesperadas pisando e esmagando os pequenos e diminutos segundos. Bateu com a mão direita na testa e sentiu dor maior do que esperava. Ficar ali muito tempo parado olhando para o vazio estava lhe deixando louco. Precisaria juntar toda sua energia e em concordância com seu cérebro levantar e procurar uma saída. Se é que existia. Não estaria todo o mundo assim? Jogado na escuridão?
            Desistira de pensar e resolvera agir. Só que seu corpo foi mais rápido do que seu cérebro, e sentiu mais uma vez sua testa doer. Só que desta vez pareceu-lhe mais suave, e teve a impressão de ouvir por cima de sua cabeça o barulho de algum objeto rolando lentamente. Aguardou. Subitamente teve a sensação de que algo passará a sua frente. Mas antes que pudesse racionalizar tudo aquilo que acontecerá em frações de segundos, ouviu um som seco como plástico batendo sobre papel. E por um instante ouviu a voz de Deus: “E se faça a luz.” E no meio do que antes era treva, um feixe de luz surgiu espantando alguns demônios e fazendo surgir outro mais forte de um brilho opaco, preso firme a sua mão direita. Um revolver calibre 38 entre seus dedos. Como a serpente entregando a Eva a maçã no paraíso, os feixes de luz serpentearam por alguns segundos na escuridão e entregaram a ele aquele objeto frio, metálico, de um brilho opaco que lhe dava o poder, mesmo que só em sua mente, de matar a própria escuridão. Abriu lentamente a arma e em seu tambor com capacidade para seis balas viu que só restara uma dentro.
            Antes que sua mão direita levasse até seu cérebro aquela maçã podre em forma de revolver, sentiu o som de papel amassar a sua esquerda e curioso virou-se quase como em automático. Sem perceber, guardará lentamente a arma entre seu corpo e a calça que vestia. Engraçado, o frio do metal não o incomodou. A mão direita, agora livre, segurava meio que vacilando, tentada por mais uma mordida na maçã, a lanterna. Iluminou a mão esquerda e pode ver que ela amassava umas três folhas de papeis, e que não só debaixo dela, mas ao redor dele havia dezenas delas.
            Circundou lentamente com a lanterna para tentar se localizar. Era uma biblioteca. Estantes repletas de livros. Mas algo um pouco a sua frente chamou sua atenção. Uma máquina-de-escrever, isolada do resto, com uma folha presa. Engatinhou lentamente até ela, segurou com a mão esquerda a folha que estava na maquina e puxou. Estava numerada com um enorme 11593 vermelho. Havia algo escrito nela, datilografado com tamanha força e fúria, que algumas letras chegaram a transpassar a folha. Mais uma vez a lanterna vacilou em sua mão direita, mas não pela tentação de ter mais uma vez o calibre 38 em suas mãos, mas pelas palavras que iluminava no papel, juntas pareciam mais destrutivas que a bala dentro de sua arma. A cada frase formada, parecia sentir em seu coração cada letra sendo cravada nele. Girou a lanterna em um 360º perfeito, tendo ele como centro. Deveria ter mais alguém ali, seria a única explicação. Como estaria tudo ali, naquela folha de papel, do momento em que abriu os olhos até o momento seguinte e seguinte e seguinte. Tentou fazer outro 360º, pois na primeira tentativa não encontrará ninguém, mas desta vez antes de checar a metade tombou por sobre uma pilha de papeis que estavam as suas costas. E veio a sua mente a última linha do escrito: “E SURPRESA MAIOR TEVE AO ENCARAR CADA PÁGINA SOLTA, POIS NELAS ENCONTROU TERROR MAIOR. E MESMO QUE AS RASGUE, ELAS FICARAM GRAVADAS EM SUAS LEMBRANÇAS. E DE HOJE EM DIANTE, DESEJARÁ TER DE VOLTA SEUS ANTIGOS PESADELOS” Sem um ponto final. Era assim que acabava o texto, indicando que aquela não era a última página.
            As letras sobre cada folha pareciam dançar diante de seus olhos. Podia ver em cada uma números enormes em vermelho. Movido por um instinto primitivo de curiosidade começou a juntar as folhas tentando colocar em uma ordem crescente numérica, talvez encontrasse respostas nelas. Demorou algum tempo, sem saber precisar quanto tinha sido. Juntará mais de mil delas, percebendo que havia muitas faltando. O menor número que encontrou foi o 7856, mas nenhum maior que 11593.
            Estava um pouco cansado. Como tivesse trabalhado por dias inteiros sem descansar. Mas mesmo assim iluminou a primeira página. À medida que seus olhos passeavam por elas, sentia que seu cérebro se antecipava, dando-lhe a sensação de que já vivenciou tudo aquilo. De forma repentina lançou tudo que tinha em mãos para o alto. Uma chuva de folhas. E junto, iluminando cada uma, ele viu a lanterna subir lentamente, escrever no ar letras desconhecidas a ele e, com um som seco de plástico chocando-se em concreto, viu pela ultima vez o feixe de luz e sentiu como se fosse a própria lanterna, a dor de ser feito em milhões de pequenos pedacinhos.
            Pensou que aquele seria seu fim. De volta as trevas, sentiu que sua cabeça começava a doer, invadida por lembranças indesejáveis, que havia deletado de sua mente, mas que de alguma forma aqueles textos resgataram. Era como se cada palavra que lera, estivesse viva agora dentro de sua cabeça. Não ficou por muito tempo na escuridão. Viu um pequeno ponto de luz a sua frente crescer lentamente, até formar um enorme retângulo de luz, onde com certeza havia espaço pra uma pessoa passar. Levantou e cambaleou pendendo pro lado direito, como se seu corpo denunciasse o peso do calibre 38 que trazia na cintura, mas não caiu. À medida que se aproximava da nova fonte de luz, seus olhos foram identificando uma porta, mas não lembrava de ter visto nenhuma enquanto examinara a biblioteca. Mas isso pouco importava, só queria sair das trevas o mais rápido possível e quem sabe deixar para trás aquelas terríveis lembranças.

...

            Saira do inferno e agora estava no paraíso. Deitado em lençóis brancos, de um aroma cítrico que de alguma forma lhe remeteu ao passado, que por mais que tentasse lembrar as formas que tinha o seu passado, o máximo que podia ver era um branco tingido de vermelho sangue. Sentiu um líquido quente descer pelos seus olhos. Finalmente conseguiu chorar e liberar a angústia de poder lembrar algo indesejável. Eram mais de mil folhas que ele havia contado e separado. Eram mais de mil pessoas que ele havia matado. Sem motivos. Pelo simples prazer de matar, da forma mais sádica possível. Enquanto estava naquela biblioteca escura lendo, sentiu por um momento raiva daquele assassino, mas quando percebeu que o assassino era ele, uma angustia terrível tomou conta de seu peito, pois parte dele parecia gostar do que estava escrito. Mas deveria esquecer disto por enquanto, neste momento seria incapaz de machucar uma formiga. A única pista que tinha agora do que fazer era uma folha de papel que encontrará sobre um terno listrado. Um número 11595 vermelho, seguido de um texto que parecia incompleto. Pelo que leu aquele terno era seu, e realmente o era, pois serviu perfeitamente. Dentro do bolso esquerdo inferior havia um cartão: “Pleasure Night Club com seu respectivo endereço. No verso ele havia escrito, quando? Ele não sabia:
“Hoje apenas um Drink
Sexy on The Beach
apenas com Licor de Pêssego”
            Pela segunda vez aquele pedaço de papel parecia ler sua mente e ver seus desejos e atos. Se tudo aquilo era um jogo, uma brincadeira, não estava vendo graça alguma. Era de arrepiar que alguém soubesse tudo que você vai fazer antes de você. Realmente, precisava sair e beber algo, apagar por algumas horas e esquecer de tudo, de preferência nos braços de uma prostituta. Dinheiro? No bolso esquerdo da calça, assim estava escrito e assim aconteceu. Levantou-se de forma brusca, sentiu uma pequena tontura, mas não desmaiou. Pensou em ligar para recepção e fechar a conta, mas estava escrito que o telefone estava quebrado, hesitou, mas não resistiu, quis conferir. O silêncio foi a única resposta que teve quando tirou o fone do gancho. Precisava falar com a recepção para trocarem. Abriu lentamente a porta do quarto e saiu. E a única imagem que guardou daquele lugar foram de lençóis brancos e o número 11595 vermelho como sangue maculando o branco virginal.

...

            Ouviu o som da porta se fechando as suas costas. Lá estava ele, no meio de uma enorme boate onde garotas nuas rebolavam, falavam mentiras e vendiam um mundo melhor em troca de dinheiro. Aquele mesmo dinheiro que parecia brotar em notas azuis em seu bolso. “E dizem que o peixe-boi está em extinção, não para mim” pensou com um leve sorriso no rosto. Olhou para trás e se lembrou que tudo aquilo lhe parecia um sonho. Não se lembrava do que fez quando saiu da biblioteca. A sensação que teve ao atravessar aquele retângulo de luz foi de que seu corpo andou mais alguns passos para frente e tombou, mas havia algo para amaciar sua queda. E lá estava ele deitado numa cama chique de quarto de hotel. A principio achou que a biblioteca e o quarto estavam conectadas, mas ao abrir a porta do quarto foi um enorme corredor que encontrou, repleto de outros quartos que se alternavam de um lado a outro. O número de seu quarto: 113. Agora ali de pé, encarando o banheiro masculino, ele tinha a mesma sensação, de que o quarto estava ali dentro do banheiro, empurrou a porta, mas o que encontrou foi apenas um odor de urina e vômito e um espelho redondo com o nome PLEASURE NIGHT CLUB gravado nele. Olhou pra sua imagem no espelho e viu que seu terno estava desabotoado, todo aberto, apenas escondendo sua arma na cintura. “Minha Arma” falou baixinho, como saberia se era dele? Se não, agora ele acabara de tomar posse, parecia já fazer parte dele, sentia sua pele e o frio metal se fundindo num só.
            - Bem, já não preciso mais de você. Estava prestes a amassar e jogar o pequeno cartão de visitas do clube noturno, quando viu no verso quase que uma ordem. Havia esquecido. Hoje iria tomar um drink, apenas com Licor de Pêssego.
            Chegou lentamente ao balcão onde serviam as bebidas. E algo lhe chamou a atenção. Parecia que todos ali o conheciam. A maneira como o olhavam, como se dirigiam a ele. Confundiam-no com outra pessoa. Tinha quase certeza disto.
            - O de sempre? Foi a recepção que teve do barman.
            - Não... A reposta saiu tímida. Não lembrava de já ter ido a esta boate, muito menos do que bebia. Não, hoje ele tinha uma ordem, escrita por ele mesmo. Pegou o pequeno cartão. Hoje vou querer um Sexy on the Beach, apenas com Licor de Pêssego.
            O barman se inclinou para frente em um pequeno ângulo, para poder pegar algo debaixo do balcão do bar. Uma arma? Ele se afastou alguns passos para trás, já preparado pra usar a única bala do seu 38, quando viu um som conhecido. Era um par de chaves que o barman tratou de colocar sobre o balcão e empurra-las suavemente para ele. Se não se apressasse a retornar ao seu lugar anterior, elas teriam passado direto e tombado no chão. Havia um 13 enorme em uma pequena placa de metal, e preso a ela duas chaves idênticas. Olhou para o barman, e este devolveu o olhar acompanhado de um sorriso:
            - O de sempre. E deu as costas, e antes que ele pudesse falar algo, entrou em uma pequena porta de metal.
            Não teve alternativa. Talvez seu drink o aguardasse neste local de número 13 e quem sabe respostas também. Não sentiu seu corpo esbarrar uma única vez em alguém. O local estava cheio e não encostar em alguém era impossível. Mas pelo dia que supunha estar tendo, se tudo aquilo não for um sonho, nada mais lhe parecia impossível. Não demorou e logo chegou a um estreito corredor, onde contou seis portas do seu lado esquerdo e seis do seu lado direito. E uma solitária no lado mais distante dele, com um enorme 13 pintado de cima a baixo. A chave encaixou perfeitamente e com um pequeno giro, seguido de um estalo, a porta se movimentou e revelou um pequeno quarto, iluminado apenas por um abajur. Não viu luxo, apenas uma cama de casal, um ventilador de teto, um frigobar e no canto esquerdo uma portinhola que parecia levar ao banheiro.
            Pegou uma cerveja no frigobar, pois era a única bebida com álcool que encontrou. “Aonde está o meu Drink?” Se deitou olhando para o teto. E ficou vendo as hélices do ventilador girando lentamente. O barulho lento e repetitivo do ventilador o fez lembrar daquela maquina-de-escrever. Bebeu um pouco da cerveja, que desceu refrescando sua garganta e depois se espalhando de forma mágica por seu corpo. “Estupidamente gelada!” e com um estalo de língua bebeu mais um pouco. Tlac-Tlac-Tlac, aquele som terrível de maquina-de-escrever, a sensação que tinha era de que, mesmo solitária, aquele objeto continuava escondido nas trevas da biblioteca, cravando uma a uma letras em uma folha de papel, registrando cada passo de sua vida e muitas vezes até se antecipando. Isso mesmo, se antecipando! Era uma corrida injusta. A maquina contra o homem. Ela sempre à frente. E se ele se esforçasse mais, poderia ouvir cada vez mais forte o Tlac-Tlac-Tlac!
            Aquele aroma cítrico novamente. Parece que estava hoje ali para fazer uma viagem no tempo. Mas aquele perfume só o fazia lembrar do branco misturado ao vermelho sangue. Bebeu mais um pouco da cerveja. Pensou em repetir, mas sentiu o perfume cítrico invadir suas narinas, uma pele macia encostar em seus lábios e sem exitar deixou que a lata de cerveja fosse tirada de sua mão. Olhou lentamente para esquerda e pode ver a silhueta, curvas femininas. Um sorriso. Pensou em falar algo mais aquela pele macia ainda estava colada a sua boca.
            - Nunca pensei, digo nunca notei que você realmente gostasse de mim. Era uma voz quase que cantada, de uma feminilidade e sensualidade encantadora. Pensei que eu e as outras meninas éramos apenas diversão. Achei que você nunca fosse notar. Que bom que notou. “Notar o que?” ele pensou, mas não teve como falar. Tentou dizer que nem a conhecia. Que era a primeira vez q se encontravam, mas não conseguiu. Antes que eu esqueça, você me disse que eu saberia a hora de lhe devolver isto e acho que o dia especial é hoje. Lentamente tirou de dentro do roupão um envelope. Tome, você sempre gostou de escrever não é?
            Ficou calado, não saberia responder. Até agora achava que a única coisa q tinha feito na vida era matar, o que já era muito assustador. E agora, ela dizia que ele era um escritor. Abriu com os dedos tremulantes o envelope, rasgando lentamente sua lateral. Ela teve a impressão de ver seus olhos crescerem no rosto e seu coração bater mais rápido.
            - Tudo bem querido? Ela perguntou.
            Um sim sem muita convicção do que dizia foi a única resposta que ele conseguiu dar. Lá estava mais uma folha de papel, aparentemente iguais a todos que vinha encontrando. Cuidadosamente dobrada, de forma simétrica. Repousando dentro de um envelope branco.
            - Há quanto tempo?
            - Há quanto tempo o que? Ela respondeu meio que entre uma risada e um olhar simulando seriedade.
            - Há quanto tempo eu deixei você com este envelope? Ele parecia bem sério, o que fez com que a seriedade simulada se tornasse real.
            - No primeiro dia que nos conhecemos, há uns cinco anos atrás. Pensei que você estava brincando. Mas você me olhou com este mesmo olhar sério! Acho que foi a maneira que me olhou que me conquistou. E com uma pequena risada de felicidade ela deu uma leve tapinha no rosto dele.
            Ele se calou e não deu atenção as últimas palavras dela. Segurou aquela folha de papel nas mãos e jogou o envelope ao lado da cama. Desfez lentamente as dobras e a primeira coisa que viu foi aquele número vermelho enorme tomando quase metade da folha: 11595. Desfez a última dobra, e o que encontrou foram algumas poucas linhas. O texto iniciava justamente onde acabara o que encontrou no quarto de hotel. Uma continuação. Como um quebra-cabeça, faltando várias peças. Mas o que teria escrito ali? Poderia ele acreditar nela?
            - Você está grávida? Estava ali, parecia um roteiro de uma peça. Ele, o ator principal, repetia apenas as palavras da maneira como lia no pedaço de papel, sem colocar nenhum sentimento no que dizia.
            - Sim, estou! Sabia que você havia notado. Um sorriso bobo surgiu no rosto dela. Ótima atriz ele pensou. Sabe o texto de có.
            - Eu sou o pai. Não lembrava nunca de ter visto ela, quanto mais a engravidado.
            - Estou surpresa! Não achei que você aceitaria tão fácil. Ela continuava com aquele sorriso bobo no rosto. Esperou o abraço, em algum momento ele iria acontecer, estava escrito na droga do papel. Como ele desejava que ele estivesse enganado. Mas não estava, seus olhos se encontraram e ela se lançou em um abraço e ele pode sentir sua pele macia roçar em todo seu corpo. Mas com um leve movimento dos ombros se desfez deste abraço.
            - Preciso ir ao banheiro. Não estou me sentindo bem. Não foi a noticia de que seria pai que lhe perturbara, pois achava que um dia haveria de ser, muito menos o abraço, mas sim as linhas seguintes daquele roteiro que lhe assustou.
            Ela não entendeu o que aconteceu, achou que tudo estava indo tão bem.
            - Por que você deu a mim o apelido de Licor de Pêssego? É a parte que você mais gosta no drink Sexy on the Beach? Tipo, você desde o começo quis dizer que eu era a sua preferida?
            - Talvez. Nem mesmo ele sabia a resposta, e deixou escapar uma pergunta. E havia outras?
            - Claro. Uma risada de felicidade. Um drink não se faz com apenas um ingrediente. No seu caso você sempre gostou deste tal Sexy on the Beach. Eu sou sua Licor de Pêssego, as outras eram Vodka, a suquinho de laranja e a Grenadine.
            Aquela sensação de que o confundiam com outro não saia de sua cabeça. Como tantas coisas podiam acontecer sem que ele se lembrasse delas. Entrou no banheiro, não conseguiu acender nenhuma luz, aparentemente estavam queimadas. Quase que espectral a luz do abajur entrava através da portinhola do banheiro e ele via apenas o contorno de seu corpo no espelho. Não queria acreditar nas últimas linhas do texto. Lavou o rosto, uma, duas vezes. Talvez acordasse em breve e veria que tudo realmente era um sonho. Mas ao passear com a mão direita sobre a pia, sentiu sua alma gelar. Ficou parado. Tentou confirmar com o tato, e lá estava ao seu lado, uma tesoura, maior que um punhal. Estava no clímax daquele ato. Todo o cenário montado. Os atores em cena. O roteiro seguido a risca. Não acreditava que ele era o autor. Como poderia prever isto há cinco anos atrás.
            Sem anunciar, o abajur os deixou em total escuridão. Parece que seu destino era caminhar pelas trevas mais uma vez, só que desta vez não teria a ajuda de uma lanterna. Tudo bem, pois havia gravado bem o caminho até a porta, poderia sair sem problemas. Num movimento enérgico se virou para trás, queria dizer para ela não se preocupar, ficar onde estava que iria abrir a porta. Mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, sentiu seu braço direito parar em algo macio, e algo quente percorrer entre seus dedos e molhar seu rosto. “Meu Deus!” Esquecera de largar aquela tesoura. E no momento que girou, ela foi de encontro ao ventre de Licor de Pêssego. Sentiu o macio dos braços dela passearem entre a tesoura, seu braço e o ventre dela. Podia ver, ou melhor, imaginar um olhar de incompreensão. Mas tudo que ele poderia dizer a ela naquele momento era que foi perfeito, fechava-se com chave de ouro aquela encenação, poderiam serrar as cortinas,bater palmas. Ela havia sido uma ótima atriz. Haviam seguido o roteiro fielmente. E repetiu baixinho no ouvido dela as últimas palavras do texto que ela o entregara. Sua própria sentença de morte.
            “SEM PRESSA A TESOURA ENTROU EM SEU VENTRE, E PODE SENTIR O PRAZER DE CEIFAR DUAS VIDAS. ELA FICOU EM SILÊNCIO, MAS ENQUANTO CORTAVA SUA BARRIGA DO UMBIGO PRA CIMA, PODE-SE ESCUTAR A SUPLICA DE VIDA DO PEQUENO FETO, QUE RAPIDAMENTE FOI CALADO PELO DESEJO DE SANGUE. O DRINK DE HOJE: BLOOD MARY”
            Não conseguiu chorar, nem expressar nenhuma emoção. Quando percebeu a gravidade de tudo, soltou lentamente a tesoura. E sentiu Licor de Pêssego tombar. Correu em direção ao local aonde achava estar a porta. E em sua mente soava como que amplificada e ricocheteando nas paredes do quarto fazendo eco: BLOOD MARY.

...

            Tudo não passava de um engano. Estavam confundindo ele com outro. Era incapaz de cometer um ato se quer de violência. Muito menos seria capaz de matar alguém. Era tudo um pesadelo, mas se fosse por que ainda não acordou? Tentava gritar, pedir ajuda, mas não conseguia. Sentia seu corpo coberto pelo sangue dela e de seu filho. Precisava se limpar. Tirar aquela roupa. Tomar um banho e lavar toda aquela impureza.
            Não foi difícil achar a saída daquele quarto. Era como se a escuridão tivesse apagado tudo ali, e apenas correr em linha reta foi o suficiente. Atravessou a porta sem dificuldades, e a luz de fora que veio direto as seus olhos pareciam agulhas, e por um instante tudo que era negro ficou branco, mas ainda cego, correu mais um pouco até sentir seu corpo descer bruscamente até o chão. Havia tropeçado em algo. A sensação de dor subiu pelas suas pernas e tomou conta de todo seu corpo. O chão ali não era nada macio. Mas não ouvia mais a musica, o som de pessoas conversando, nem aquela sensação estranha de todos estarem o olhando. Levantou lentamente a cabeça, seus olhos estavam se acostumado, a luz não era tão forte assim. Seus olhos deveriam estar enganados. Ele deve ter saído por uma porta diferente da que entrou no quarto, pois ele não estava no corredor do clube noturno. Seu coração estava assustado, parecia ter reconhecido aquele lugar. Aquelas estantes cheias de livro, uma mesa a sua frente. Parecia uma biblioteca. Reclinou a cabeça para trás para ver em que havia tropeçado. Ali estava quente, seu corpo estava molhado de suor. Mas o que seus olhos viram, mesmo que na penumbra, o fez achar o ambiente mais sufocante ainda, e sentiu que talvez ali fosse o inferno, ele apenas não havia ainda se dado conta. Lá estava ela. A maquina-de-escrever, parada, olhando para ele, zombando dele. Não acreditou que tivesse retornado a biblioteca. A principio não a havia reconhecido, pois estava mais iluminada agora. Mas aquela maquina, agora tinha certeza!
            Aonde estavam as folhas de papeis que encontrara antes? Parecia que alguém havia tomado a liberdade de arrumar aquele lugar. Passou a mão pelo rosto esperando sentir o suor misturado ao sangue da garota que acabara de matar. Mas nem suor, nem sangue vieram em sua mão. Olhou para roupa, precisava trocá-la, pois estaria toda coberta de sangue. Mas não estava, e muito menos estava com o terno listrado. Estava vestindo uma camisa preta de mangas longas, dobradas com a mesma simetria que lhe fazia lembrar a folha de papel que Licor de Pêssego lhe dera. Passou a mão na cintura, e percebeu que a arma continuava no mesmo lugar. Não sabia o que sentir. Sentia a tensão da situação em seus ombros.
            - Bem vindo ao lar. Aquela voz veio como a de um fantasma as suas costas.
            Lar? Como poderia chamar aquilo de lar. Nem sabia quem ele era, como poderia saber se realmente tinha um lar. Afastou-se com medo do que poderia encontrar e não ter como se defender e só então pode encarar o dono daquela voz.
            - Quem é você? Foi a única pergunta que conseguiu fazer. A sensação que tinha era de conhecer aquela pessoa por trás da penumbra e em cima da mesa. De tantas que virá neste sonho louco, aquela era a única que tinha a sensação de conhecer.
            Em um movimento brusco a figura em um pulo, saltou de cima da mesa e parou atrás da máquina-de-escrever. Um salto bem calculado. A fraca luz iluminou aquele rosto conhecido. Quantas vezes não vira aquele rosto. Como poderia esquecer? Aquele rosto estava no hotel e na casa noturna, todas as vezes que se olhou em um espelho, àqueles mesmos olhos que o observavam sem ele saber, aquela mesma boca com aquele sorriso de canto. Ele conhecia aquele rosto.
            - É como se ver diante de um espelho, não é? Assustador? Você se acostuma, tenha certeza disto. Eu me acostumei. E aquela figura parou diante da maquina, de cócoras, parecendo um macaco. E hoje estamos aqui para acabar com todo nosso sofrimento.
            - Então era você, e não eu. Ele sentiu um alívio em perceber que talvez tudo que lera fosse referente aquele, que aparentemente era sua cópia. Você matou todos, inclusive a Licor de Pêssego! Ele sentiu que as suas emoções pareciam ter morrido juntas com ela.
            - Não seja tolo. A figura fez um brusco movimento com a cabeça, olhou para cima e depois voltou a encará-lo. Durante todos esses anos fui capaz de suportar a dor e dar a você a chance de viver os melhores momentos da vida, sem se lembrar de nada! E é assim que você retribui? Chamando-me de assassino? Fez um movimento de não com o dedo indicador. Lamentavelmente eu não posso fazer nada. Vamos dizer que eu sonho e você torna meus sonhos realidade. E hoje poremos um fim nisto tudo. Hoje acabaremos com a causa disto tudo!
            Não entendia a situação. Estava perdido. Não sabia para onde ir, ficar ali sentando olhando sua imagem no espelho conversando com ele, era tudo que podia fazer. Estava preso, acuado, com uma situação que ainda não estava preparado para enfrentar.
            - Quem é você? Quem sou eu? Ele não sabia o que fazer. Tinha que partir de algum lugar.
            - Papai! Uma voz infantil chegou aos seus ouvidos. E uma garota aparentando seus 12 a 13 anos pareceu sair por entre as estantes. Ela trazia consigo aquele aroma cítrico. Sem entender o porquê, se levantou e abriu os braços para ela. Um encaixe perfeito de seus corpos. Uma tranqüilidade repentina tomou conta de sua alma. Aonde esteve este tempo todo, estava com saudades.
            - Eu também estava querida, eu também! Sem saber de onde, as palavras pareciam brotar de sua boca.
            Ouviu palmas leves vindo daquela estranha figura.
            - Que comovente esta cena. Mas sinceramente, me enoja ver os dois juntos. Tive que suportar isto todos estes anos, e você com essa sua indiferença como se nada tivesse acontecido! Como pode agüentar? Por causa dela perdermos nosso Amor!
            Ele não entendia, aquela figura louca falava de algo que ele não conseguia entender, com fúria, que pareciam queimar em seus olhos como fogo.
            - Claro que você não se lembra! Eu suportei a dor, enquanto você vivia seu conto de fadas bela adormecida! Mas hoje está na hora de acordar! Até treze anos atrás vivíamos tão felizes, nunca pensamos que ela poderia ir embora. Mas no dia em que este pequeno demônio nasceu vimos o olhar de nossa amada mudar. Ela trouxe a loucura para nosso lar. Mas os médicos chamaram de depressão pós-parto, pura falação! Um dia à noite a encontramos diante do berço, segurava uma faca, nós sabíamos o que ela iria fazer, mas não podíamos ver que tudo era culpa deste demônio! Tentamos evitar, mas terminamos sendo feridos, a faca transpassou nossa cabeça. Ela não conseguiu completar sua missão, quando nos viu caído ali no chão aparentemente morto, ela se jogou do 8º andar, direto para o térreo. Mas acho que você não se lembra dela, muito menos do que veio depois. Uma semana depois acordei em uma cama de hospital, os médicos vieram falar comigo, estive em coma, dormindo. Disseram que estava sonhando. Mas só eu sei dos terríveis pesadelos que tive. A imagem deste demônio, tudo ficou claro, por causa dela quase morremos e por causa dela perdemos nossa querida esposa! Não morremos por pouco a faca ficou alojada entre nossos cérebros, sem encostar-se a eles. Mas eu e você estávamos separados, eu o lado esquerdo do cérebro, estava lá acordado, sofrendo a dor da recuperação e das lembranças e você o lado direito, dormindo. Todos os dias desejando matar este pequeno demônio, mas não conseguiria, não sozinho. Precisava de sua ajuda. Mas sabia que você não iria querer, pois somos como o Yin e o Yang, o mal e o bem, a praga e a cura. Esperei pacientemente você acordar, guardei comigo toda a dor e sofrimento e lhe dei a sensação de controle, de que ainda éramos só um. Você não se lembra de como os médicos se surpreenderam? E todos esses anos, vi esse demônio crescer junto com meu ódio, sentir este cheiro cítrico, esse perfume idiota que ela tanto passou a gostar, sentir você nos fazer abraça-la, você acha q foi fácil? Tinha que fazer você se acostumar com a idéia de matá-la. E durante anos fomos matando estranhos. Um ótimo livro, não acha? A história de nossa vida preencheria uma biblioteca como esta. E hoje viveremos o clímax de nossas vidas. Como está escrito no grande “livro do destino”. E aqui está a pagina número 11600. Se há uma coisa da qual não se pode escapar é o destino. E o nosso é matar esta criança!
            Estava perplexo. Tudo aquilo parecia loucura. Não podiam ser uma só pessoa. Como tanto ódio poderia viver junto de tanto amor. Do seu lado esquerdo a garota sentia seu abraço forte, ele não queria largá-la, de tudo que viverá até ali, ela era seu único ponto de referência, o único traço de lucidez. Ela o olhava sem entender o que acontecia. Mas ele sabia bem, estava claro, nas linhas que se seguiam uma atrás da outra, ele sabia quer parecia inevitável. Estivera durante muito tempo a mercê daquela outra figura, que só agora conhecia, e parecia que o destino o encurralara. Pensou que estava no controle de tudo, mas agora percebeu, que era apenas uma metade, um lado direito de uma massa cinzenta pulsátil. Ler as linhas finais da pagina número 11600 era assustador. Olhou para os olhos de sua imagem e viu que eles pareciam apontar para algo a sua direita. Olhou calmamente sem pressa, talvez quem sabe o destino passasse por eles sem os notar, e só assim o fim trágico não acontecesse. Mas ali estava, um machado, capaz de partir aquela pobre criança ao meio. Sentiu sua mão direita segurar com tamanha força, que foi capaz de sentir a madeira do machado estalar, como prestes a partir, e pode ouvir uma voz quase que sussurrada a sua esquerda “papai, você está me machucando!”.
            Lentamente o machado foi erguido, como o ponteiro de um relógio, marcando os últimos segundos de vida da garota, que olhava atemorizada já esperando seu fim trágico. Ele tentou evitar a progressão do machado, mas não sentia mais o controle sobre seu braço direito, era o outro (ele sabia)  (ue sabia, ele, seria finalmente morta.  mente insana de seu outro eu, aquele dem anos para se fortalecer, e agora era dono da que teve anos para se fortalecer, e agora era dono da situação, iria acabar como estava escrito, e na mente insana de seu outro eu, aquele demônio, sua filha, seria finalmente morta. E depois? O seu braço ereto apontou meio-dia.
            Sentiu as lágrimas quentes que desciam pelo rosto da pobre criança molharem sua camisa. E a viu ser empurrada para frente, e após dois passos cair sentada, com seus pequenos olhos encharcados em lágrimas fitando os olhos deles. E em seguida, um vermelho vivo tingiu aquele vestido branco. E sentiu o corpo arriar, deixando-o de joelhos. Tudo acontecera tão rápido. Quando seu braço esquerdo estava pronto para descer, enquanto seu outro eu se deliciava com seu grande feito, pode agarrar o 38 que estava esquecido em sua cintura, e com aquela única bala que lhe restara, levou a extremidade da arma a sua boca, e com um único movimento do gatilho, o projétil atravessou destruindo seu lado direito da cabeça, e jogando uma chuva vermelha de sangue sobre a criança. Antes de cair pode ver que o outro se aproximava dele, e sussurrou algo em seu ouvido. E agora sem poder fazer nada, sentindo sua vida escorrer em cada gota de sangue que jorrava de sua mente tombou no chão, com aquela voz ecoando no que restara do seu córtex direito: “Não se pode fugir ao destino, não importa quantas vezes terei que reescrever este final. No final ela morrera, pois assim está escrito.” E a última imagem que viu foi a daquela estranha figura rasgando o papel com o número 11600, sentado diante da máquina-de-escrever. E quando tudo era escuridão, pode ouvir aquele som, retornando das trevas: Tlac-Tlac-Tlac.

...

Seus olhos foram lentamente se abrindo. Pelo menos esta foi a impressão inicial que ele teve...

MAKTUB

segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Rescrevendo uma poesia

Pediram uma opinião sobre uma poesia, refiz ela de forma a ficar mais poética e dramática.

Dias frios passam.
Palavras soltas,
Se perdem no tempo.
Rasgaram meus sentimentos, 
E, como um pássaro 
De asas cortadas,
Grito em silêncio.
Meu canto hoje
É o lamento dos amores
Que perdi 
Nos outonos de minha vida.
Antes fossem troféus,
Jogadas como cartas, 
Vividas para ganhar.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

De onde vem a poesia
Se não do fundo do coração
Não é fruto de alegria
E sim de frustração

É o torto reflexo da alma
Na áspera superficia da vida
Calejada pelo sol diário,
Não precisa de metria

Feliz o filho que tem
Que mesmo de escrita feia
Uma mãe que o elogia
Pois maldita seja a cria
Que não a traga harmonia

Sei que ela sorri,
Pois sabe que de mim
Só terá poesias livres.